Expectativa de protecionismo e valorização do dólar favorece exportações, mas pode elevar juros e inflação no Brasil
A eleição de Donald Trump para um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos traz preocupação para as economias emergentes, como o Brasil. Com a promessa de intensificar políticas protecionistas, Trump deve adotar medidas que favoreçam a valorização do dólar, o que poderá impactar a economia brasileira de formas distintas. Se, por um lado, a indústria exportadora pode ser beneficiada, com destaque para o agronegócio, por outro, o aumento do dólar tende a pressionar os juros e a inflação no país, desvalorizando o real.
Trump anunciou que vai intensificar a taxação sobre empresas chinesas que exportam para os EUA, o que deve afetar economias dependentes das exportações, embora o Brasil não seja tão vulnerável a esse fator específico. Em 2023, as exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 36,9 bilhões, mas a balança comercial teve déficit de US$ 6,2 bilhões, indicando que o Brasil importou mais do que exportou para o parceiro norte-americano, que é o segundo maior mercado do Brasil, atrás apenas da China.
Para Juliana Tescaro, diretora do Grupo Studio, o agronegócio brasileiro poderá se beneficiar de um dólar mais forte, especialmente em um cenário de guerra comercial entre EUA e China. “Com Trump, o dólar valorizado pode fortalecer as exportações brasileiras, especialmente de commodities e produtos agrícolas, aumentando a competitividade do Brasil no mercado americano”, explica Juliana.
Risco de alta nos juros e inflação interna
O impacto da vitória de Trump já é sentido no mercado financeiro. Nesta quarta-feira (6), o dólar foi cotado a R$ 5,855 na abertura do mercado brasileiro, com pico de R$ 5,861, refletindo a incerteza sobre as políticas do novo governo americano. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que “o dia amanheceu mais tenso”, apontando para a necessidade de monitoramento cuidadoso.
Com maioria republicana no Senado e um possível controle da Câmara, Trump deve encontrar menos resistência para aprovar suas propostas, como políticas fiscais expansionistas e cortes de impostos, que tendem a gerar um efeito inflacionário. José Alfaix, economista da Rio Bravo, alerta que a expectativa de juros mais altos nos EUA pode tornar o dólar ainda mais atrativo frente ao real e outras moedas emergentes. “O lado fiscal expansionista, com cortes ambiciosos de impostos, é inflacionário, e o Fed pode reagir com juros mais altos para controlar a inflação”, afirma Alfaix.
Essa alta nos juros americanos coincide com o momento em que o governo Lula busca reduzir a Selic, atualmente em 10,75% ao ano. Muitos setores no Brasil consideram a taxa básica de juros uma barreira ao crescimento econômico e apontam o impacto da Selic no custo do crédito e na desaceleração do consumo.
Possíveis oportunidades e desafios no mercado americano
Trump também se comprometeu a restringir as importações chinesas, o que pode abrir espaço para produtos brasileiros nos EUA. Além de commodities e itens do agronegócio, o Brasil poderá substituir parte das exportações chinesas, embora o impacto seja limitado por outros fatores. Isabela Bessa, da Warren Investimentos, acrescenta que a expectativa de aumento dos juros americanos poderá manter uma inflação mais elevada nos EUA, pressionando o Brasil a adotar medidas preventivas para conter o impacto econômico.